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segunda-feira, 5 de novembro de 2018

A porta

Talvez ele seja a única pessoa que chega do trabalho por volta das vinte e quatro horas. Aos dezenove anos, precisa ter de ser garçom nas folgas de seus estudos de enfermagem, quando ainda tem vontade de estar pelas ruas de conversa com amigos. Pensa que isso não se chama uma noite muito feliz, como muitas que vêm se repetindo de estudos pela madrugada.
Não se deveria deixar um jovem procurar estudar numa noite de luar assim. Então, começa por admirar as luzes da cidade e depois fica um bom tempo sentado na varanda da casa agradando os olhos com a lua cheia.
E não vê nada de errado ficar por ali apanhando um vento e com os pensamentos numa bela garota. Devia ser por influência das noites e noites que fica ouvindo os gemidos do casal do quarto ao lado do dele. Esse negócio de morar em pensão tem, no fundo, um caráter de curiosidade da intimidade do outrem. Em um ou outro momento, os casais deixam passar a ideia de que são bons de cama...
Uma languidez crescente parece-lhe vir agora. Precisa é subir para os aposentos, sem grandes avivamentos de quadros eróticos em sua mente.
Ah, que a noite traz sons de música por toda parte!
O corpo o chama para um bom banho e cama.
Êpa! Que os sons não são apenas de música... alguém geme, baixinho, como se a respiração estivesse sendo cortada... mas com espasmos de prazer!?...
O efeito na mente dele é imediato. Olha para o corredor vazio. O corpo inicia um processo de excitação, com as mãos nervosas, os olhos vidrados e alertas em tudo à volta e um aceleramento nas batidas do coração.
E se aproxima na ponta dos pés da porta contígua a seu quarto. Todavia não olha de imediato pela fechadura. Deixa o ouvido colar à madeira enquanto seu pulso parece sentir o que acontece dentro do recinto do casal.
Realiza mentalmente uma construção da imagem da mulher. Morena-clara, um metro e setenta, pernas bem torneadas e um bumbum rijo e com nádegas parecendo serem dois melões marrons. Os seios bem arredondados, constantemente semiexpostos em blusas leves e curtas. Os lábios conservam sempre um convite para um beijo úmido de língua, com todo aquele batom vermelho, muito bem colocado, diga-se!
Olha para a porta: de repente, lembra-se da fechadura. Abaixa-se para que os olhos fiquem numa altura em que possa ver o que acontece dentro do ambiente pelo orifício da chave da porta. Mas e a chave?!
Um calafrio lhe percorre o corpo quando nota que ela não está ali.
Lança uma olhadela rápida pela fenda, como um piscar de olhos.
O som do coração e dos gemidos que ouve de dentro do quarto espalha-se pelo corpo dele, e coloca as mãos no fecho da calça, sem raciocinar, como algo natural ou mecânico.
Ai, meu pau! – Quer gritar,
A um canto do quarto uma cama de casal, abriga o casal; ao alcance dos olhos dele, com a mulher deitada na ponta da cama de pernas para cima e o homem, de pé, arruma os tornozelos dela para os colocar nos ombros dele.
À luz do quarto é-lhe possível ver que ela está em êxtase. Apura o olho no buraco da fechadura. Mas tem um sobressalto interior e acha que está sendo observado. Fica de pé e se estica para, logo depois, virar a cabeça para um lado e outro, quando se percebe com medo de ser descoberto ou muito desejo sexual.
Respira e se atira para a abertura na fechadura outra vez.
A porta está entre ele e o casal.
Não há como recostar-se a ela sem que seja notado. Acomoda-se como pode com as mãos na parede e não se mexe, nem sob o impulso do pênis enrijecido que quer sentir um toque.
Sente uma espécie de prazer, em que ficaria de pé deixando aquela mulher lamber seu pau, na mesma técnica vagarosa que ela usa com o marido. Ela busca o encontro dos testículos do marido com tamanha avidez que o rapaz tem de pegar nas calças novamente. O homem estica-se todo, como se estivesse alongando o corpo e, entre suspiros de gemidos, agarra os cabelos dela, como quem segura a caça por ser dono e senhor.
Ela ergue, vez por outra, a cabeça para olhá-lo, de lábios úmidos, lambendo-os, com vontade.
Ouve, com delícia, os gemidos dela, a tremer as pernas de tanto desejo, que se esquece de onde está e coloca as mãos dentro da calça. Passa a acariciar o pênis. Ora passa a mão com carinho lento, ora faz uma espécie de concha aberta para bater uma punheta, naquela entrega apressada do que sente.
Não tem muito que dar ritmo aos movimentos de fricção. Sente um calafrio percorrer o corpo e uma glândula espirra o sêmen. A mão fica dormente momentaneamente. Sente uma contração de prazer no corpo, como se um perfume de uma boca muito feminina lhe viesse ao encontro das narinas. E sem receios de ser notado ali naquele corredor, tendo ainda a mão na calça, fecha calmamente o zíper.
Ainda olha pela fechadura da porta. A mulher está de quatro na cama, enquanto o marido, de joelhos a penetra segurando-a pelos quadris. É uma visão breve. Ele, cônscio de que sua situação pode ser descoberta, encara o resto do espaço que o distancia do próprio quarto.
Entra, fecha a porta e se despe indo para o banheiro numa ação contínua.
Que mal pode advir de quem tem a capacidade de gozar de cenas de um homem e uma mulher que se amam? O homem, por isso mesmo, ocupa o lugar unânime da virilidade masculina.

Ah! a expressão virilidade masculina me vem, romanticamente, com a imagem de uma noite ao luar!...

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